Plataforma: Família de Produtos

Hugo Estevam Longo
8 min readJun 7, 2020

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Media Source: Medium of Wyatt Jenkins

Atualmente, parece que toda empresa deseja criar uma Plataforma e não é à toa que, as principais empresas do mundo (mais valiosas) são modelos baseados em plataforma, explorando os efeitos de rede conforme expliquei no post anterior intitulado O Efeito Plataforma. As plataformas representam uma grande mudança na maneira como as empresas são tradicionalmente organizadas e há uma previsão de que nos próximos anos as empresas estarão em processo de implementação de uma estratégia de plataforma digital.

Mas há boas razões para as empresas entenderem o movimento do mercado, principalmente porque nem sempre está claro para essas empresas o que é uma plataforma. Plataforma se tornou uma palavra ambígua, presente na maioria dos ambientes de inovação, sendo usada por diferentes empresas, ou seja, isso não significa a mesma coisa em todos os contextos.

Como há muita confusão no mercado sobre plataformas porque a palavra é usada em vários níveis, decidi escrever esse artigo visando compartilhar uma visão de plataforma de outras perspectivas. Às vezes, “plataforma” é apenas um termo para um conjunto de aplicativos (Família de Produtos). Existem plataformas projetadas para suportar funções ou setores específicos (Stream, Chat, etc.). Existem plataformas de base tecnológicas (como o iOS, o Android, o Facebook, o .NET) que fornecem uma base para qualquer pessoa desenvolver.

De fato, alguns líderes da área de negócios acreditam que plataformas eficazes são definidas por sua capacidade de fazer com que outras empresas tenham sucesso e de certa forma eles tem razão. Nesse contexto, vejamos a afirmação de Murray:

“Uma plataforma de tecnologia é aquela que realmente acelera a capacidade da empresa de agregar valor aos clientes”.

Família de Produtos

Vamos imaginar que uma empresa está fazendo um planejamento estratégico a longo prazo e no atual momento não tem nenhum produto lançado. Eles sabem que precisam gerar um fluxo contínuo de produtos ricos em valor para ficarem em evidência nos mercados em crescimento com grandes concorrentes já consolidados. Faz parte da estratégia que eles não fiquem direcionando o foco para o Produto A ou para o Produto B, conforme os ventos sopram da área comercial. Eles vislumbram um cenário de alta produtividade e compartilhamento.

Diante do cenário acima, as Plataformas de Produtos, mais conhecidas como Família de Produtos surgem como uma boa escolha, pois trata-se da construção de produtos individuais que compartilham tecnologia comum e entram no mercado cada um ao seu tempo, porém como aplicações relacionadas. São essas famílias de produtos que respondem pelo sucesso a longo prazo das corporações. As famílias de produtos não precisam surgir com todos os produtos de uma só vez. De fato, eles são planejados para que vários produtos derivados possam ser criados com eficiência a partir de uma base tecnológica comum.

Chamamos essa base de tecnologia comum de “plataforma de produto”, que é um conjunto de subsistemas e interfaces que formam uma estrutura comum a partir da qual um fluxo de produtos derivados pode ser desenvolvido e produzido com eficiência. Esse conceito não é novo, ele é amplamente adotado nas indústrias como podemos ver na Volkswagem e Black&Decker conforme imagem abaixo.

Black&Decker — Plataforma de Produtos que compartilham tecnologia no motor e bateria.

A abordagem de Plataforma de Produto reduz drasticamente os custos de produção e proporciona economias significativas através do desenvolvimento de componentes, porque muitos deles são compartilhados entre produtos individuais. Importante ressaltar, os elementos básicos das plataformas de produtos podem ser integrados a novos componentes para atender rapidamente a novas oportunidades de mercado. É o que toda empresa grande quer, não é mesmo? Mas por que a maioria delas não consegue? Porque existe um abismo entre querer e poder.

Cruzando o Abismo

À medida que as empresas crescem em tamanho e complexidade, os sistemas evoluem para atender a certas funções de negócios, como desenvolvimento de produtos ou gerenciamento de legados. A dependência da empresa em relação à tecnologia aumenta a ponto de estarem “muito amarrados”. Como os sistemas geralmente se desenvolvem em ilhas funcionais, áreas de atrito e conflito começam a se materializar.

Lidar com esses atritos torna-se crítico para a capacidade da organização de produzir e inovar. As empresas querem avançar mais rápido, experimentar novas ofertas, novos mercados, novos recursos, mas não conseguem. Ao mesmo tempo, essas empresas lidam com muitos sistemas legados que prenderam seus dados e recursos em determinadas funções.

Então, como criar soluções poderosas e elegantes que definem o padrão de excelência do produto? O autor do livro The Power of Product Platform utiliza uma metáfora simples: um arco que atravessa o abismo da incerteza que toda empresa enfrenta. Como outros arcos, este é construído a partir de blocos de construção encaixados.

Imagem ilustrativa de uma empresa tentando atravessar um abismo

O que mantém os blocos no lugar e dá força ao arco, é claro, é a pedra angular. Aplicados à renovação corporativa, os blocos de construção são os conceitos e métodos para o desenvolvimento de plataformas e famílias de produtos. A pedra angular, o bloco mais crítico, é a dedicação e entusiasmo dos líderes para manterem os princípios arquiteturais que criam e renovam essas famílias de produtos.

Blocos de Construção (Building Blocks)

Para poder chegar do outro lado do abismo, precisamos de blocos de construção menores que funcionem muito bem juntos. Na estratégia de plataforma, esses “blocos” representam recursos separados, com medidas tomadas para aprimorar a eficiência e reduzir a complexidade de cada um, para que possam ser usados ​​de maneira mais eficaz pelos engenheiros e pela empresa para criar, entregar e medir as experiências dos clientes e, finalmente, atender às ambições de crescimento da empresa.

Separados significa que cada bloco recebe a autoridade e, crucialmente, os recursos para impulsionar a melhoria em um domínio específico e, juntas, essas melhorias “escalonam” os principais resultados dos negócios.

Em vez de desafios funcionais a serem enfrentados, os blocos se tornam grandes oportunidades para acelerar o tempo de lançamento no mercado, agregar segurança e permitir repetibilidade para o resto da organização, esse tipo de postura nos traz fundamentalmente a produtividade.

Olhar uma Plataforma de Produtos como monolítica é um problema, porque é um conjunto de coisas, inclusive, no caso desse artigo essas coisas são produtos. Existem partes-chave do negócio que você está tentando representar, mas elas podem ser muito diferentes umas das outras. Embora existam alguns princípios ou práticas que você usaria entre eles, é preciso ver isso como muitas partes diferentes trabalhando autonomamente.

Uma vez que examinamos para onde estão indo as principais iniciativas de negócios e para onde as equipes de engenharia devem apoiar, podemos prever o que as equipes precisam, e como se beneficiariam de ter acesso aos blocos já construídos. Ao olharmos para o portfólio ao longo do próximo ano, onde estão as futuras oportunidades de aceleração?

Naquilo que é comum e se repete.

Building Blocks em uma Plataforma de Produtos

O reconhecimento da infraestrutura como um conjunto complexo de blocos móveis reforça o argumento contra a tentativa de substituí-la por uma nova plataforma brilhante de uma só vez. Assumindo que os sistemas legados são realmente “sistemas de realidade”, atendendo às necessidades diárias dos negócios. Em muitos casos, eles condicionaram os clientes internos e externos a esperar que as funções fossem tratadas de determinadas maneiras, e mudanças maciças arriscam confusão, alienação ou coisa pior.

Uma abordagem melhor é construir uma plataforma de forma incremental, identificando os recursos específicos que os sistemas legados foram projetados para oferecer, mapeando-os para as prioridades de negócios. A partir disso, direcionar os esforços para aplicar um padrão de design chamado Strangler. Esse padrão visa migrar gradualmente um sistema legado substituindo partes específicas de funcionalidade por novos aplicativos e serviços.

Digamos que estamos operando em um data center em “Colocation” e queremos mudar para uma plataforma em Cloud. Não devemos colocar os novos componentes da plataforma sobre o data center. Colocamos a plataforma para um lado (nuvem) e movemos lentamente a carga de trabalho. Os componentes da plataforma podem ser colocados em camadas em uma infraestrutura em nuvem, até que o back-end mais confuso seja substituído.

Na avaliação de áreas para aprimoramento da plataforma, as empresas também precisam considerar as funcionalidades que compõem as soluções internas. Sabemos que uma boa implementação dessas funcionalidades colabora para na redução de custos operacionais.

Coisas como o cadastro do cliente, licenciamento de produtos e controle de volumetria, pertencem e talvez sejam únicos e estratégicos para a organização, esses devem ser construídos a fim de serem reaproveitados para todos os produtos da plataforma. Há também coisas que as empresas não compartilham ou não vendem, por exemplo, aprendizado de máquina ou inteligência artificial. Todos esses itens devem ser muito bem pensados para serem ofertados na plataforma.

Quaisquer que sejam as “partes” da plataforma que a empresa comece a montar ou ajustar, a ênfase deve permanecer em ganhos incrementais relativamente rápidos em vez de transformação de ponta a ponta.

De acordo com Murray:

“Escolha as coisas de maior valor, crie um roteiro para melhorá-las, comece a trabalhar, meça e continue constantemente aprofundando e ampliando a estratégia.”

Plataforma como um Produto (PaaP)

Devido a toda complexidade inerente apresentada acima, as plataformas de produto devem ser gerenciadas como um produto (PaaP — Platform as a Product). Se uma plataforma não for rejuvenescida, seus produtos derivados ficarão obsoletos e falharão com os clientes em termos de função e valor. No entanto, se as plataformas de uma empresa forem renovadas periodicamente, redesenhadas para incorporar novas funções, componentes e blocos, a família de produtos permanecerá robusta por gerações sucessivas.

Cada equipe deve estar trabalhando como uma equipe de produtos, independentemente de ser um bloco ou uma funcionalidade de negócio. O produto de algum time pode ser tecnologia, mas eles querem entender os objetivos do cliente interno e descobrir como torná-lo bem-sucedido. Vemos com grande frequência essa mentalidade nos pontos de contato do cliente (externo), mas você realmente precisa trazê-la para todos os níveis da organização. Os desenvolvedores devem se preocupar com o quão fácil é para seus clientes verificarem a integridade dos sistemas/produtos ou fazer o autoatendimento de seus chamados. Essa paixão por atender o cliente interno em todos os níveis é o ingrediente essencial para a forma como as plataformas evoluem e escalam.

Como produto, a plataforma será julgada por sua capacidade de escalar ou melhorar os recursos dos negócios, em oposição à tecnologia projetada para resolver problemas preexistentes específicos. Plataformas de Produtos ou Famílias de Produtos robustas não acontecem por acidente. Elas são o resultado de um processo único de construção e de estratégias para projetá-las, desenvolvê-las e revitalizá-las ao longo do tempo.

E aí, você também está passando pelo desafio de construir novas plataformas? Deixe um comentário com sua opinião! 👍

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